O acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia (UE), na semana passada, trará um aumento significativa na corrente de comércio brasileira nos próximos anos. A expectativa é que exportações e importações sejam impulsionadas e, comisso, a cabotagem – navegação pela costa do País – também poderá ser intensificada.
Especialistas apontam que os reflexos do acordo serão sentidos em um horizonte de sete a 15 anos. União Europeia e Mercosul respondem por 25% do PIB mundial e ainda por 10% da população do planeta, o que demonstra o enorme potencial de trocas comerciais entre os dois grupos econômicos.
Segundo dados da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), de janeiro a maio deste ano, a movimentação de cabotagem no Porto de Santos chegou a 6,6 milhões de toneladas, 6,14% a mais do que o mesmo período do ano passado, quando foram operadas 6,2 milhões de toneladas. Em 2018, o volume transportado entre portos do País com origem no cais santista atingiu 16,2 milhões de toneladas.
Para o economista e consultor portuário, Fabrizio Pierdomenico, com o aumento das exportações e importações de países da Europa e da América do Sul, é possível que armadores escolham portos para serem hubs, os concentradores de cargas.
A ideia é que a partir daí, as cargas sejam direcionadas para outros complexos portuários. Neste contexto, Santos tem potencial para sérum hub. “Esta vai ser uma questão estratégica para armadores. Eles podem eleger um porto como hub, que vai concentrar as cargas a serem destinadas para os outros portos brasileiros e até Argentina e Uruguai. Mas esta decisão será só deles e depende de um plano”, explicou Pierdomenico.
Segundo o consultor, ainda não é possível prever o volume do incremento nas operações portuárias. Mas, as expectativas de especialistas em comércio exterior são “enormes”.
Para a Docas, ainda é cedo para traçar cenários consistentes sobre o acordo, já que ele ainda está em fase inicial de construção. “De qualquer forma, o impacto tende a ser favorável sobre as movimentações do Porto de Santos (o hub port nacional na movimentação de contêineres), já que o acordo tende a dinamizar as trocas comerciais entre os blocos comerciais e aumentar a frequência das linhas de cabotagem de contêineres, expandindo tanto a oferta quanto a demanda do setor, facilitando a transição logística (maior disponibilidade de rotas, menores custos de fretes)”, destacou a Autoridade Portuária, em nota.
A estatal que administra o Porto de Santos afirma, ainda, que os terminais de contêineres do cais santista “estão entre os mais modernos do País e possuem investimentos programados em aumento de eficiência para os próximos anos”. Além disso, “devem estar preparados para absorver a nova demanda potencial”.
Primeiros furtos
Ainda há um longo caminho até que o acordo entre Mercosul e União Europeia, de fato, seja implantado. Mas esta demora pode ser favorável para o setor portuário, uma vez que o tempo tende a ajudar a destravar alguns fatores que impedem o desenvolvimento da cabotagem.
“É preciso que o poder público nos níveis federal, estadual e municipal e também os órgãos anuentes estejam preparados e criem condições para que, no futuro, Santos possa ser eleito como hub pelos armadores”, destacou Pierdomenico.
Entre as questões que foram levantadas pelo consultor portuário estão a desburocratização dos trâmites portuários e investimentos em infraestrutura no setor. “Não há dúvidas do potencial da cabotagem no Brasil. As distâncias de um País com dimensões continentais e a extensa costa tornam esse tipo de transporte atraente sob o ponto de vista logístico”, disse Pierdomênico.
Fonte: A Tribuna