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Frete para transporte de soja começa a reagir

Frete para transporte de soja começa a reagir
16/02/2017

A colheita de soja desta safra 2016/17 ganhou ritmo e, com isso, começou a aumentar a necessidade de agilizar o escoamento do grão rumo aos portos para honrar os contratos de exportação e abrir espaço nos silos para os volumes que ainda estão por vir. E esse corre-corre, normal para esta época do ano, já se reflete nos valores dos fretes, que nas últimas semanas registraram fortes altas. Para tradings e agricultores, a boa notícia é que, por enquanto, os preços em geral estão mais baixos, em termos reais, que no início de 2016 – o que tem gerado, em contrapartida, preocupação entre as transportadoras.

Levantamento realizado pelo grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog) mostra que, na primeira semana de fevereiro, o reajuste médio dos fretes nas rotas de grãos foi de 20% em relação à semana anterior. Na comparação com igual período do ano passado, porém, a correção nominal não passou de 3%. “O fato é que nunca tivemos valores tão baixos como em novembro e dezembro, por falta de produto para escoar. Em janeiro, houve estabilidade. Agora, o reajuste sequer recompõe a inflação do ano”, diz Samuel da Silva Neto, economista e pesquisador da EsalqLog.

O ciclo 2015/16 foi marcado por uma grande expectativa acerca da produção nacional de soja e milho, frustrada por problemas climáticos No segundo semestre, a forte redução da colheita de milho safrinha fez o transporte do cereal se concentrar no mercado interno, em rotas mais curtas e, portanto, com fretes menores. Daí os baixos valores no fim do ano destacados por Silva Neto.

Nesta semana, o frete do transporte de soja de Sinop, no norte de Mato Grosso, ao porto de Santos, no litoral de São Paulo, está saindo, em média, por R$ 305 a tonelada, aumento de 17% ante os R$ 260 cobrados na última semana de janeiro. Mas, na comparação com a segunda semana de fevereiro de 2016, a elevação é de 3,2%. De Nova Mutum, município um pouco mais ao sul de Sinop, até Santos, o valor atual é de R$ 295, 23,7% mais que no fim do mês passado – e exatamente o mesmo preço de fevereiro de 2016.

Dentro do Estado de Mato Grosso, onde a colheita está mais intensa, o comportamento de preços é semelhante. De Sinop ao terminal de escoamento de Rondonópolis, onde fica o início da ferrovia que leva os grãos aos portos do Sudeste, o frete está em R$ 132 por tonelada atualmente, ante R$ 109,06 na última semana de janeiro e R$ 128,60 em fevereiro de 2016. “No ano passado, os preços de janeiro estavam muito elevados porque, além da soja, estávamos escoando a safra de milho de inverno [colhida no segundo semestre de 2015], que havia sido enorme. Neste ano, tudo está ao contrário”, lembra Ângelo Ozelame, gestor técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Conforme a Esalqlog, a tendência é que a escalada das últimas semanas tenha prosseguimento nas próximas, já que o volume de soja colhida continuará a crescer. E, no início do segundo trimestre, as entregas de açúcar para exportação também começarão a ganhar envergadura, o que poderá ampliar a pressão de alta. “A janela de exportação da soja e do açúcar está cada vez mais próxima e, com isso, há menos oferta de caminhões”, afirma Silva Neto.

As transportadoras mal podem esperar. Pesquisa realizada em janeiro pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NT&C) em parceria com a Agência Nacional de Transportes (ANTT) apontou que 82% das companhias de transporte registraram queda no faturamento no ano passado. No caso das empresas de lotação, o percentual chegou a 87%. Na média, a queda no faturamento foi de 19,1%.

Paralelamente, os custos subiram, puxados sobretudo pelos salários, que aumentaram 8,7% em 12 meses, mas também pelo reajuste de combustíveis (4,3%), despesas administrativas (9,2%), manutenção (6,6%) e lavagem (8,4%). Também são citados na pesquisa o aumento dos gastos com segurança e a menor demanda por transporte em geral diante da crise econômica.

“O fato é que o frete rodoviário está defasado em 24,8% na carga de lotação (transporte de grãos) e 11,8% na carga fracionada. Não dá para trabalhar”, reclama Neuto Gonçalves dos Reis, diretor da NT&C. Afrânio Kieling, presidente do Sindicato de transportes de cargas e logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), reforça que, se os fretes não subirem, a atividade ficará inviável. Ele calcula que um aumento adicional de 12% sobre os preços praticados em fevereiro de 2016 ainda deverá ser aplicado no país. “Não vamos falar em ganho real, porque esse já não conseguimos faz tempo. Mas precisamos recompor os custos para continuar trabalhando”, diz ele.

Kieling afirma que, apesar desse cenário de crise, o sindicato e as empresas do segmento não consideram realizar greves no país no curto prazo. As paralisações pontuais que aconteceram em janeiro, diz, foram deflagradas por alguns caminhoneiros autônomos, que raramente têm poder para organizar mobilizações nacionais.

Fonte: Valor via Portos e Navios