Segundo alguns estudos comparativos, a emissão de poluentes de um grande navio de containers é equivalente à emissão de 50 milhões de carros. Dessa forma, é possível afirmar que a frota mundial de 760 milhões de carros causa poluição equivalente a 15 navios. Segundo a UNCTAD, existem no mundo cerca de 91.000 navios de todos os tipos. Isso dá a exata dimensão do tamanho da contribuição negativa da navegação para o meio ambiente. Como os navios circulam pelos mares, rios e lagos do mundo, até pouco tempo atrás, não havia uma percepção da dimensão do problema.
Felizmente, medidas começam a ser tomadas para enfrentar o problema, principalmente após a COP 21 realizada ano passado em Paris. A Convenção MARPOL determinou que, a partir de 15 de janeiro de 2015, navios operando no Mar Báltico, Mar do Norte, Costa Leste dos EEUU e Canadá, Puerto Rico e Ilhas Virgens só podem utilizar combustível com conteúdo máximo de enxofre de 0,10%, um corte expressivo sobre o limite anterior, de 1%. Fora das áreas de controle de emissão, o conteúdo máximo de enxofre permitido é de 3,5%, o que deverá cair para 0,50% a partir de 2020.
Além disso, busca-se construir novos motores cada vez mais eficientes, tanto em gasto de combustível como em controle de emissão de poluentes. Na última edição da feira SMM, realizada em Hamburgo no começo deste mês, havia um pavilhão dedicado à “propulsão verde” O fabricante de motores Wartsila, na oportunidade, apresentou um estudo denominado “Visions of Future Shipping”, que avalia os efeitos da cada vez mais rígida legislação ambiental para o combate ao aquecimento global sobre a indústria. O documento traça cenários que formatarão o modo como o transporte marítimo será operado no futuro.
Diversos grupos de pressão se formam para estimular a consciência ambiental na cadeia logística do transporte marítimo. Em sua 11ª edição, realiza-se em outubro, na cidade de Veneza o “Green Port Congress” que, reunindo profissionais da área portuária e marítima com ambientalistas, discute as melhores práticas de desenvolvimento sustentável. Uma dessas práticas é o “Environmental Ship Index (ESI)”, um índice desenvolvido pelo “World Ports Initiative” que mede o desempenho de cada navio na redução de emissões acima dos padrões mínimos da IMO/Marpol, onde alguns portos já premiam tais navios com reduções tarifarias.
Outra iniciativa que reúne armadores e operadores de navios é a “Trident Alliance”. Composta atualmente por 39 membros, o grupo procura incentivar a indústria do transporte marítimo a aderir às normas de prevenção da poluição de forma igualitária e justa entre todos, de forma que os bons não acabem pagando pelos maus.
De parte dos embarcadores, também temos visto iniciativas buscando um transporte “verde”. Um grupo de cinco grandes embarcadores globais (AB Inbev, AzkoNobel, DSM, FrieslandCampina, e Huntsman) formou o chamado BICEPS (Collaborative Emission-Reduction with the Power of Shippers), que pretende, usando conjuntamente seu poder de compra de fretes, estimular os armadores a adotar práticas sustentáveis, criando também um índice para medir o desempenhos dos navios. Outro embarcador, a Cargill – um dos mais importantes afretadores do mundo – tomou a decisão de somente contratar navios que sejam ambientalmente adequados no que se refere à eficiência energética dos combustíveis.
A somatória dessas iniciativas vai aos poucos se consolidando, nos permitindo ver o futuro do planeta com um pouco mais de otimismo. Mas e o Brasil? O que os nossos embarcadores e portos têm feito a respeito do tema? Não está na hora de começarmos a pautar isso em nossas discussões?
Fonte: Robert Grantham para Guia Marítimo