*Repórter enviado especial a Nova Iorque
Transportar contêineres entre os terminais do Porto de Santos e a Região Metropolitana de São Paulo não mais em caminhões ou trens, mas por um sistema de trilhos suspensos, reduzindo o impacto ambiental da operação e melhorando as condições de tráfego nas estradas que atendem o complexo marítimo. O projeto, que será apresentado na concorrência que o Governo do Estado abrirá nas próximas semanas, para selecionar um estudo sobre modelos de transporte de cargas entre o cais santista e o Planalto, foi revelado a empresários e autoridades do complexo marítimo na tarde de ontem, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
O empreendimento foi desenvolvido pela empresa de tecnologia norte-americana Eaglerail Container Logistics e anunciado por seu proprietário e chefe-executivo de Marketing, Mike Wychocki.
A reunião com o empresário foi um dos compromissos da comitiva brasileira ontem, durante sua visita ao Porto de Nova Iorque e Nova Jersey, o principal da costa leste dos Estados Unidos. A viagem ao complexo integra a programação da edição deste ano (a 14ª) do Santos Export – Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos. O seminário foi realizado pelo Grupo Tribuna e pela Una Marketing de Eventos no mês passado, no Mendes Convention Center, em Santos.
Segundo Wychocki, o projeto de um sistema de transporte de contêineres por trilhos suspensos, uma espécie de teleférico de cargas, será apresentado na concorrência que a Dersa, empresa de transportes do Governo do Estado, abrirá nas próximas semanas para contratar um estudo sobre como melhorar a movimentação de cargas entre a Região Metropolitana de São Paulo e os terminais do Porto de Santos. A licitação é financiada pelo Banco Mundial. A EagleRail, explicou o executivo, participará do certame em parceria com o grupo brasileiro de engenharia Promon.
O empreendimento prevê a implantação de um terminal no Planalto, nas proximidades do Rodoanel e do Ferroanel de São Paulo, onde haverá a integração intermodal do sistema teleférico com rodovias e ferrovias. Desse ponto, sairá a malha de trilhos aéreos (suspensos por pilares) que descerá a Serra do Mar até chegar a Cubatão e à Área Continental de Santos. O trajeto a ser percorrido a partir desse ponto ainda será definido. Uma opção é ele entrar na região portuária pela Ilha Barnabé e, então, se subdividir, com um ramal indo para a Margem Esquerda (Guarujá) e outro para a Margem Direita (Santos), atravessando o canal do estuário por uma ponte.
Acesso aos terminais
Conforme Wychocki, o sistema deve chegar até cada um dos terminais de contêineres do complexo, percorrendo ramais distintos para cada instalação. De acordo com o executivo, a ideia já foi discutida com instalações e operadores ferroviários que atuam no Porto de Santos.
O estudo preparado pela Eaglerail engloba um sistema que transportará 500 contêineres por hora, a uma velocidade de 24 quilômetros por hora, indo do cais santista até o Planalto em cerca de duas horas. O projeto ainda prevê que as cargas de importação sejam retiradas sem serem alfandegadas. O processo de liberação da Alfândega ocorreria apenas no terminal do Planalto, que seria autorizado pela Receita Federal para esse tipo de operação.
O projeto visa facilitar a movimentação de contêineres no cais santista, que deve crescer nos próximos anos, mesmo com a atual crise financeira do País afetando o comércio internacional, prevê o executivo.
“A operação de contêineres vai crescer e Santos terá de se preparar para isso. Qual a solução? Podemos construir mais rodovias, ampliar as malhas ferroviárias até o cais. Ou então podemos inovar e melhorar. E é essa nossa proposta: oferecer um sistema de transporte mais limpo, veloz, automatizado e que reduzirá os congestionamentos nas estradas e aumentará a capacidade dos portos”, afirmou Mike Wychocki perante os empresários e as autoridades, reunidos em uma sala em um dos prédios de escritório da Sexta Avenida em Mahattan, Nova Iorque.
A apresentação foi acompanhada por representantes do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo e da Administração Marítima do Departamento de Transportes do Governo dos Estados Unidos, além de demais dirigentes da Eaglerail.
Ainda durante a exposição à comitiva de empresários e autoridades do Santos Export, o proprietário e chefe-executivo de Marketing da Eaglerail Container Logistics, Mike Wychocki, destacou que o sistema apresentado por sua empresa visa preencher uma lacuna ainda ignorada pelo mercado.
Segundo ele, o setor de transportes marítimo tem avançado na ampliação de navios, equipamentos de movimentação de cargas nos portos e nas tecnologias adotadas em trens e caminhões, mas não desenvolve sua intermodalidade. E também não tem encontrado respostas para o transporte dos contêineres vazios – que têm Intermodalidade
O transporte por trilhos aéreos é utilizado em países como China e Japão, para a movimentação de passageiros, há mais de 100 anos, lembrou o empresário. E tem sido aproveitado para o mesmo fim, recentemente, nos Estados Unidos e em Israel. Como vantagem, explora um espaço não aproveitado (a parte aérea de rodovias, por exemplo), é movido à eletricidade (sem emissão de poluentes na atmosfera) e automatizado, destaca o empresário. E, segundo ele, sua utilização para o deslocamento de cargas é viável.
“É um sistema positivo. Mas seu principal ganho é o baixo impacto ambiental. Só precisamos instalar os pilares e a carga passa sobre a vegetação, sem quaisquer danos. E o mesmo modelo pode ser utilizado sobre rios, canais e o mar, podendo atender terminais offshore”, explicou o executivo da Eaglerail.
A empresa de tecnologia também está em negociações para implantar o modelo de transportes em outros portos do Brasil – em Itaguaí (RJ), há conversas com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – e de outros países.
Há ainda tratativas avançadas no complexo de Nova Iorque e Nova Jersey, em Durban, na África do Sul, em Rizhou, no norte da China. Aliás, o porto asiático, que opera 3 milhões de TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), deverá ser o primeiro a contar com esse modelo de movimentação de contêineres. Uma carta de intenções com sua administração para a elaboração do projeto inicial já foi assinada.
Agenda
Também na quinta-feira (27), empresários e autoridades da comitiva do Santos Export se reuniram com executivos da empresa de engenharia Aecom. Na pauta do encontro, os impactos do aumento do nível do mar nas regiões costeiras e, principalmente, nos portos marítimos.
Atualmente, a Aecom elabora planos de resiliência costeira para a ilha de Manhattan, em Nova Iorque, regiões de Nova Jersey e o Porto de Long Beach, na costa oeste dos Estados Unidos. No início do mês, a empresa foi contratada pelo Porto de Los Angeles (vizinho ao de Long Beach) para desenvolveu sua estratégia de proteção.
Fonte: A Tribuna