Com duas categorias profissionais em greve, usuários do Porto de Santos acumulam prejuízos. Até a última segunda-feira, a paralisação dos estivadores já somava R$ 8 milhões em custos extras para os agentes marítimos. Já a operação-padrão dos auditores fiscais da Receita Federal atrasa o repasse de R$ 100 milhões por dia para a Aduana.
De acordo com o diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque, o problema afeta navios que realizam operações de importação e exportação. Uma consequência disso é a fila de cargueiros na Barra de Santos. Ontem, o número de embarcações que aguardavam para atracar chegava a 47, sendo sete porta-contêineres.
O executivo também explica que há cancelamentos de embarques, além de alterações de escalas em outros portos. Com o planejamento comprometido, os custos aumentam.
“O navio que carregava 1.200 contêineres tinha uma operação que levava 12 horas. Atualmente, devido à lentidão existente na parte operacional, a permanência do navio atracado se estende para 48 horas. Isso equivale a uma produção de 25%, isto é, um quarto do que se obtinha como resultado eficiente no operacional”, destacou o executivo.
Estivadores realizaram uma passeata pela Rua João Pessoa, no Centro de Santos, na tarde de terça-feira (27)
(Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna)
A sobreestadia das embarcações por conta da morosidade das operações implica em um custo que varia entre US$ 120 mil e US$ 150 mil, em cargueiros de grande porte. Segundo Roque, no caso dos contêineres que são desembarcados no Porto de Santos, alguns precisam ser desviados.
“Os navios de importação estão sendo desviados para o terminal da Embraport (instalação privada do Porto e, por isso, menos afetada pela greve da Estiva). Mas, devido à quantidade de navios que esperam para atracar naquele terminal, caso se estenda o movimento, teremos problemas de espaço físico para o armazenamento tanto da carga de importação como de exportação, com impactos nas operações dos navios como decorrência de possíveis remoções dos contêineres”, explicou o executivo.
Mas nem todos os navios de importação estão conseguindo atracar com a agilidade necessária nos terminais que surgem como opção, cita José Roque. E isso também acontece com as embarcações que fazem linhas de exportação, prejudicando toda a cadeia logística do comércio exterior.
“Nas cargas de exportação, infelizmente não temos como desviar para outro terminal pelo fato de que toda a carga deve ser entregue no terminal contratado pelo armador, onde o navio irá atracar, com 48 horas de antecedência da chegada do navio, para o cumprimento do deadline (prazo para armazenamento) e o planejamento das operações de embarque”, explicou.
Imagem
Para o diretor do Sindamar, as greves resultam em perdas para todos os segmentos que atuam no comércio exterior e dificilmente são recuperáveis. Ele aponta, como consequência, os impactos na balança comercial e a deterioração da imagem do Porto.
“A imagem do País começa a ficar desgastada e sem credibilidade, por falta do cumprimento dos compromissos comerciais assumidos, decorrente dessa infinidade de greves que afetam o maior porto do Hemisfério Sul. Alguns embarques possuem contratos quanto ao prazo de entrega no exterior e, na hipótese desse compromisso não ser atendido, resultará em multas aos exportadores”, disse José Roque.
Liderados pelo presidente do sindicato, Rodnei (Nei) da Silva (centro), portuários foram até a Alemoa
(Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna)
Protesto
Em greve há nove dias, desde segunda-feira da semana passada, estivadores do Porto de Santos fizeram um protesto na tarde de ontem nas ruas do Centro, na Cidade. O trânsito ficou complicado em virtude da manifestação.
A concentração dos portuários começou pela manhã, na sede do Sindicato, no Paquetá. Em seguida, eles saíram em carros e motos buzinando pela Rua João Pessoa, em direção à Prefeitura, na Praça Mauá. Depois, seguiram para a entrada da Cidade e, após percorrer um trecho da Via Anchieta, chegaram no portão da empresa Brasil Terminal Portuário (BTP), onde o protesto foi finalizado.
Reivindicações
Os estivadores estão parados em três terminais de contêineres – BTP, Santos Brasil e Libra – e pedem 11,78% de reajuste salarial retroativo a março, aumento no valor do vale-refeição para R$ 30 e utilização proporcional de avulsos (Estiva) e vinculados (funcionários) no cais.
Em audiência de conciliação, o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP) ofereceu reajuste salarial de 10%, R$ 30,00 de vale-refeição e manutenção dos 66,6% dos trabalhadores vinculados até março de 2018, quando este número aumentaria pra 75%.
O Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de Sãop Paulo (Sopesp) abraça as propostas do TRT-SP, mas alega que não vai descumprir acórdão que estabelece a escala progressiva de vinculados nas operações até a extinção dos avulsos, em 2019.
Sem acordo, o impasse continua, pelo menos até hoje, às 15h30, quando o TRT-SP deverá julgar a greve dos estivadores. Poderá mandar todo mundo voltar ao trabalho ou atestar a paralisação como legítima.
Fonte: A Tribuna