O rebaixamento da nota da agência Moody’s do grau de investimento da China teve impacto na indústria siderúrgica brasileira, com as ações da Vale caindo 2% na quarta-feira (24), o maior tombo diário dos papéis da mineradora em mais de duas semanas.
Especialistas ouvidos pelo G1 divergem sobre as consequências que a ação pode ocasionar no mercado internacional, em um momento que Pequim vinha ganhando protagonismo com o posicionamento mais protecionista dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, veem indícios de que o mercado de commodities brasileiro pode sofrer impactos a longo prazo, já que a China é um dos seus principais importadores de produtos como o minério de ferro, madeira, carne de frango “in natura” e petróleo.
Para Orlando Assunção, economista e professor de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o rebaixamento “acende um sinal amarelo” para o investidor e deixa o mercado cauteloso com a incerteza do futuro do crescimento econômico chinês, o que pode ocasionar em um movimento constante de diminuição das importações. “Isso afeta o preço da commodity e, por consequência, as ações da Vale no Brasil, por exemplo”, disse.
Apesar dos impactos na indústria siderúrgica, “como houve um crescimento na China, mesmo menor que o esperado nos últimos anos, as pessoas começaram a demandar mais proteína, então o setor agrícola não sofrerá impactos e o país deve continuar importando do Brasil”, analisa o professor de economia da Faculdade Getúlio Vargas (FVG), Clemens Nunes.
A tentativa de Pequim em tentar reorientar sua economia, para Nunes, “é baseada no fomento ao consumo”, o que ocasionou, nos últimos anos, “uma expansão descontrolada do crédito” e, consequentemente, da dívida pública do país. “Para se recuperar, a China terá de reduzir a oferta de crédito, um importante instrumento de aceleração de crescimento”, disse.
Segundo relatório do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), as exportações para a China aumentaram mais de 500% entre 2005 e 2011, o que ajudou no crescimento do PIB brasileiro, apesar da crise de 2008.
Desaceleração Chinesa
A desaceleração da China começou por volta de 2011, quando Pequim passou a adotar um novo modelo econômico que prioriza o mercado interno em detrimento da produção industrial para exportação. Nos últimos anos, a segunda maior economia do mundo teve taxas de crescimento superiores a 10% que, nos últimos anos, mantiveram-se entre 6% e 7%.
Na quarta-feira (24), a Moody’s rebaixou a nota de investimento da China de Elevado (Aa3) para Médio Elevado (A1), pela primeira vez desde 1989, prevendo que a dívida interna do país irá subir ao mesmo tempo que a economia irá desacelerar.
A decisão da agência norte-americana ocorre em um momento em a China faz grandes esforços para controlar os riscos de grandes empréstimos que podem resultar em dívidas prejudiciais à sua estabilidade financeira. Em 2016, o montante da dívida pública chinesa equivalia a 260% de seu Produto Interno Produto (PIB).
“Há de se considerar que, apesar de ter desacelerado nos últimos anos, o crescimento da China ainda é elevado. Lembremos também que o país tem reservas estrangerias que chegam a U$3 trilhões, além de um setor privado que também vem crescendo”, disse Lourdes Casanova, doutora em economia da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.
Já para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a desaceleração deve ser encarada como algo “natural”, fruto de um movimento internacional. “Isso não pode ser encarado como um problema, mas sim uma nova realidade que o mundo tem que incorporar. É impossível que o crescimento do país continuasse tão grande porque ela faz parte de um mercado global, que está instável”, disse.
*Sob supervisão de Marina Gazzoni
Fonte: G1