O presidente da AEB, associação que reúne os exportadores brasileiros, José Augusto Castro, considerou uma tragédia histórica a notícia de que frigoríficos brasileiros pagavam propinas a fiscais sanitários para liberar carnes e acredita que o impacto do escândalo vai além do mercado de proteína animal, influenciando também os preços de grãos no mercado global.
Ele avaliou que carne de origem duvidosa é menos valorizada no mercado e para que possa a voltar a entrar nos mercados consumidores externos, os compradores podem oferecer preços menos atrativos e fazer uma análise de qualidade mais minuciosa. Isso aumentaria o custo ao exportador nacional.
“É a maior crise da história do Brasil do mercado de carnes”, disse Castro à Reuters. “Vai aumentar custo com mais fiscalização e menos receita. Podemos ver uma perda de competitividade”, acrescentou, citando como possibilidade a imposição de barreiras fitossanitárias mais rigorosas entre os importadores da carne nacional, além de perda de mercados para fortes concorrentes como Estados Unidos e Austrália.
“O pior é que a denúncia envolve grandes empresas. Não tem desculpa para dizer que elas não tem estrutura”, disse Castro.
Analistas consultados pela Reuters mais cedo manifestaram posições semelhantes sobre impactos para as exportações de carne brasileira e perda de confiança de consumidores nacionais.
O secretário-executivo do ministério, Eumar Novacki, reconheceu que o governo federal teme uma reação dos mercados internacionais. “Existe sim o receio de fechamento dos mercados, mas estamos conversando”, disse o secretário a jornalistas, confirmando que instituições da União Europeia e dos Estados Unidos já fizeram contato com o governo brasileiro para levantar questões sobre a operação.
“Lógico que nos preocupa o mercado internacional. Existem falhas mas estamos aprimorando o sistema”, acrescentou.
Os impactos dessa fraude na fiscalização no mercado de carnes também devem ser sentidos no mercado de grãos. Produtos como milho e soja, com forte presença na pauta exportadora brasileira, devem ter uma redução de preços no mercado global, na avaliação do dirigente.
“Se o Brasil reduzir a quantidade (de carne) exportada, principalmente o frango que consome muita ração, vamos deixar de transformar soja e milho em farelo; vai ter que colocar isso no mercado externo e com oferta maior isso pode derrubar o preço (dos grãos)”.
No primeiro bimestre deste ano, o preço da carne de frango exportada pelo Brasil subiu 21 por cento, afirmou Castro. “É claro que vai perder essa alta.” Já o preço da carne bovina avançou 4,2 por cento e a suína subiu 29 por cento a tonelada, disse o presidente da AEB.
Para minimizar os efeitos do escândalo, Castro defende a entrada de importadores no Brasil para analisarem in loco a qualidade dos produtos.
Fonte: Uol via Portos e Navios