O principal índice da bolsa brasileira fechou em alta pelo 9º pregão seguido nesta quinta-feira (4), renovando a máxima histórica pelo 3º dia seguido. O Ibovespa subiu 0,84%, aos 78.647 pontos.
Essa é a maior sequência de ganhos desde julho de 2016, quando a bolsa subiu por 10 pregões seguidos. Somente nos 3 primeiros pregões de 2018, o avanço já acumula quase 3%. Em 9 sessões, o ganho é de 8,21%. No ano passado, o Ibovespa subiu quase 27%, acima dos 76 mil pontos. Foi o segundo ano seguido de ganhos.
Para analistas ouvidos pelo G1, tanto o cenário interno quanto o externo explicam essa sequência de altas. No Brasil, os motivos apontados para o otimismo são os sinais de recuperação da economia e a queda dos juros, ainda que as expectativas envolvendo a reforma da Previdência e as eleições sigam sob as atenções.
Nos EUA, o dia foi de novo triplo recorde em Wall Street, e o índice Dow Jones fecha pela 1ª vez acima de 25 mil pontos, em meio a números positivos do mercado de trabalho e e indicações de crescimento robusto nas principais economias.
Para o economista Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, essa junção de fatores “faz com que os investidores busquem outras alternativas, assumindo um pouco mais de risco para remunerar seu capital”. Isso, portanto, aumenta a procura por ações e faz a bolsa subir.
“Internamente, a parte econômica vai bem. Hoje foram divulgados bons números sobre a venda de veículos, por exemplo. E tem o efeito do Ilan [Goldfajn, presidente do Banco Central], no primeiro dia útil do ano, falando sobre redução de juros”, lista o especialista sobre o cenário interno.
Leandro Martins, analista da Nova Futura investimentos, também aponta para fatores pontuais que vêm puxando o avanço dos últimos dias. “Um cenário com bancos em alta, siderúrgicas em alta e commodities subindo só podia dar nisso, renovação de pico histórico”, diz.
Juros em queda, bolsa em alta
O economista Fernando Marcondes, planejador patrimonial da GGR, aponta a questão dos juros como o principal fator para explicar a sequência de altas da bolsa.
“Grande parte dos brasileiros não estava investindo em bolsa, estavam investindo em juros. Não só as pessoas físicas, como fundações e fundos de investimentos. Agora, com a queda da taxa nominal de juros, onde vão ganhar dinheiro? Então, está ocorrendo essa migração – saudável – para investimento em empresas”, resume Marcondes.
De fato, o avanço do Ibovespa tem atraído um número maior de investidores pessoas físicas para o mercado de ações. A B3 ganhou 55 mil investidores adicionais em 2017, para 619 mil pessoas físicas, se aproximando do recorde histórico registrado em maio de 2013, quando o número chegou a 637 mil pessoas.
O número de pessoas físicas na bolsa supera o de investidores no Tesouro Direto, que fechou novembro com 558.313 participantes ativos, o maior patamar desde o início do Programa, segundo o Tesouro Nacional.
Martins aponta que é possível que o movimento esteja sendo impactado também por um “efeito manada”. “Com o mercado subindo, quem tinha dúvida vai querer subir junto”.
Os investidores estrangeiros, que respondem por cerca de metade do volume financeiro movimentado na Bovespa, também tem contribuído para a sequência de recordes.
Somente nos 2 primeiros pregões de 2018, as entradas de capital externo (compras de ações) superaram as saídas (vendas de ações) em R$ 865 milhões, dando continuidade ao movimento visto em dezembro, quando os estrangeiros injetaram R$ 3,65 bilhões na bolsa em meio a uma série de estreias de novas empresas na B3. No acumulado de 2017, a entrada líquida de capital externo foi de R$ 14,6 bilhões.
Cenário político e econômico
Desde o ano passado, o mercado monitora pistas sobre a possibilidade de aprovação de reformas como a da Previdência. Com o Congresso em recesso, neste início de ano essa questão ficou em segundo plano. No entanto, especulações sobre as eleições de 2018 continuam entre as atenções do mercado, que procura avaliar se os candidatos com mais chances de vencer são a favor ou não das reformas.
“As eleições são mais para o final do ano. Mas sempre as expectativas agitam mais do que os fatos”, analisa Martins.
Ainda internamente, os dados que apontam para a recuperação da economia, como inflação baixa e redução da taxa de desemprego, também seguem influenciando o mercado. “É consenso entre os principais analistas que o ano passado foi o fundo do poço”, diz Martins.
“Temos problemas envolvendo a aprovação da reforma da Previdência, problemas políticos, incertezas. Porém, o Brasil mudou. Com a crise, as empresas se tornaram mais eficientes, e isso por si só para a bolsa é uma ótima notícia. Bolsa é empresa”, complementa Marcondes. “O cenário empresarial favorável está mais forte que o peso de uma eleição ou possível rebaixamento da nota do Brasil.”
Panorama externo ajuda
Lá fora, o cenário também está favorável para o mercado de ações. Nos Estados Unidos, o Dow Jones Industrial, o índice referência de Wall Street, atingiu nesta quinta-feira (4), pela primeira vez na sua história, a marca de 25 mil pontos. Investidores repercutem dados sobre a economia do país, o rumo dos juros e a reforma tributária.
Na China, os mercados acionários ampliaram os ganhos nesta quinta e tiveram o quinto pregão de alta consecutivo, de olho em dados positivos sobre a economia do país. Segundo a agência Reuters, o restante dos mercados asiáticos também avançou com dados econômicos sólidos dos Estados Unidos e da Alemanha reforçando o otimismo dos investidores.
Na Europa, as principais ações tiveram o melhor desempenho desde abril de 2016, também segundo a Reuters, enquanto os dados de serviços da zona do euro confirmaram que o fortalecimento da economia está impulsionando a atividade corporativa.
“Olhando lá fora, o cenário é positivo”, diz Plácido, acrescentando que, “com juros reais baixos ou até negativos em alguns países, o investidor precisa buscar ativos de maior risco”, o que explica a alta das bolsas.
“A ata do FOMC [Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos] informou que os juros subirão, mas a maioria votou pelo aumento gradual. Tivemos ainda dados da China, anunciaram a manutenção das metas de crescimento por lá. Tem ainda a reforma tributária dos Estados Unidos, que é ótima para eles e devem puxar um crescimento”, lista o economista.
Para as ações no Brasil, no entanto, “o mercado mundial não é o principal fator de alta”, segundo Martins. “Mas, não atrapalhando, óbvio que deixa o cenário mais leve”, comenta.
Fonte: G1