Em meio a crises, política e econômica, o Brasil tem vivenciado grandes desafios na condução da política econômica do país. O profissional de logística que tiver conhecimento do cenário macroeconômico e setorial saberá como driblar a crise e sair na frente no mercado. Diego Machado, Sócio e Diretor de Infraestrutura e Logística da Parallaxis Economia & Ciência de Dados, responde a questões pontuais sobre o tema, com base nos estudos elaborados pela consultoria.
Economia e Logística, o que elas têm em comum?
Se não tudo, quase tudo. Se pararmos para analisar a definição básica de economia vemos que ela é uma ciência social que tem aspectos diretamente ligados à logística, dado que analisa a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Não por acaso, esses mesmos fatores são os princípios básicos da logística e supply chain, que visa fazer a gestão e planejamento de ponta a ponta, da produção ao consumo final. Nesse sentido há uma relação de interdependência entre esses dois temas, dado que ambos são mutuamente impactados pelos desempenhos.
O que esperar do cenário político-econômico brasileiro?
O Brasil tem passado por fortes turbulências, tanto na economia quanto na política, que afetam o curto, médio e longo prazo seja por questões ligadas a dívida do governo, inflação, juros e desemprego em alta ou no desencadeamento de processos como o impeachment, lava-jato, afastamento de ministros do governo interino, perda do grau de investimento, etc.
De fato, o cenário está nebuloso e os desafios são bastante grandes. No início sentimos o impacto da mudança na situação do setor externo (assim como os demais players globais), juntamente com a desvalorização da moeda brasileira que esteve no topo entre as moedas que mais perderam valor ante o dólar no último biênio 2014-2015 que cria um trade off entre aumento do custo vis-à-vis os produtos importados que servem de insumo para a produção nacional e o processo de incentivo à atividade econômica devido aumento da competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional estimulando o desenvolvimento e investimento no setor produtivo, aumentando a demanda por infraestrutura e serviços logísticos. Paralelo a isso enfrentamos uma inflação altíssima, atingindo em 2015 um índice de 2 dígitos (10,67%) e que ainda se encontra em patamares altos, apesar da trajetória de recuo.
O corte na taxa básica de juros (Selic) vem no encalço do alívio da inflação e do péssimo desempenho da atividade econômica, que permite espaço para que a redução se inicie tão logo. Esperamos que esse corte ocorra ainda este ano, corretamente ao nosso ver, sendo reduzida de 14,25% a.a. para 13,25% a.a. ao final de 2016, com uma sequência de 2 cortes de 50 pontos base nas reuniões de outubro e dezembro. Para 2017, projetamos que a Selic recuará até 11,75% a.a. Essa queda na taxa de juros é importantíssima para criar condições de retomada do investimento na economia.
Apesar do otimismo, o que determina a realização do investimento, além da taxa de juros, é o retorno do capital frente à demanda agregada futura, esperada no momento de realização dos investimentos. Atualmente, a tendência é que a renda dos trabalhadores siga declinando e contraindo demanda, ao passo que o crédito siga restritivo. O panorama para a economia brasileira continua pernicioso e recessivo para esse ano, entretanto, uma nova janela de oportunidades se abre agora diante deste novo governo. A mudança nas expectativas tende a contribuir para a retomada da atividade, mas é preciso que a demanda acompanhe, impulsionando a atividade. Para este ano, nossa expectativa de retração do PIB é de -3,5%. Já para 2017, podemos ver um PIB de +0,2%.
Como o profissional de logística deve se posicionar nesse contexto?
Sabemos que a demanda agregada sofreu forte retração nos últimos 2 anos (2014-2015) e que os próximos dois anos (2016-2017) também não serão dos mais fáceis. No mesmo período vimos o custo sofrer alta significativa em diversos setores, seja na energia elétrica, abastecimento de água, preço dos combustíveis, prêmios de seguros, valor de compra de bens de capital devido à desvalorização cambial, encarecimento dos financiamentos através do aumento da taxa de juros, dentre outros. Tudo ocorria simultaneamente a um aumento na oferta de serviço de logística e transporte, seja através da entrada de novos players no mercado, autônomos e empresas, devido a baixas barreiras de entrada no setor e/ou através da fusão e aquisição de empresas no setor, que consolida concorrentes mais fortes e abrangentes no setor.
Resumindo, temos uma demanda fraca, alto custo e oferta gigantesca de PSL’s (Prestadores de Serviços de Logística) que pressionam a margem do setor, que já é bastante achatada, principalmente se analisarmos o setor de TRC, que tende a sofrer ainda mais nesse cenário.
O profissional de logística tem em suas mãos uma grande oportunidade, dado que as empresas ligadas aos setores da indústria e comércio tem na sua composição de custo uma grande participação com etapas ligadas à logística (armazenagem, transporte, distribuição, etc) e, por isso, tem capacidade de criar formas de maximizar os resultados da sua operação e a do seu cliente através de uma gestão estratégica voltada para redução de custos e aumento de produtividade, fornecendo serviços de alto valor agregado. Numa visão mais “fria e calculista”, o prestador de serviços logísticos deve analisar qual a tendência dos setores em que atua e ver se a previsão de demanda em queda deve encontrar no curto ou médio prazo um horizonte de recuperação que valha a pena manter o foco nas operações atuais. Caso haja fatores que mostrem que a curva de retomada do crescimento deste setor não condiz com o gap financeiro da empresa projetado para o mesmo período, é hora de iniciar um processo de redirecionamento de mercado e planejar um processo de “migração gradual” para setores que tenham melhores perspectivas e que estejam alinhadas com as necessidades das empresas prestadoras de serviços logísticos.
Saber como está o desempenho dos principais setores de atividade da economia brasileira, bem como analisar toda a sua estrutura mercadológica, divisão regional, mercado de trabalho, composição de custos, oferta, demanda, marcos regulatórios, são pontos essenciais para direcionar os esforços das empresas que atua na área de logística a aumentar as margens, visando compensar as perdas que foram obtidas com a queda da receita, fruto do processo de desaceleração vivida pela economia brasileira.
A Parallaxis Economics & Data Science trabalha para identificar tendências e oportunidades de negócios, sempre alinhando nosso conhecimento em economia e negócios à tecnologia, transformando dados em inteligência analítica. Nossa equipe de economistas e pesquisadores elaboram projeções e cenários realistas para economia brasileira, mercados e setores de atividade e com isso elaboramos modelos para analisar tendências e criar um panorama analítico para a estratégia das empresas no mercado.
Fonte: Guia Marítimo