Em até 60 dias, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) terá um banco de dados com informações sobre a armazenagem de produtos perigosos no Porto de Santos. Com isso, em caso de um acidente com essas mercadorias, a Autoridade Portuária saberá a localização dos produtos explosivos ou químicos estocados nas instalações portuárias.
O monitoramento das cargas perigosas no Porto é uma das etapas necessárias para a criação do sistema de Alerta e Preparação de Comunidades para Emergências Locais (Apell, em inglês). A medida é defendida pela Defesa Civil do Estado e foi discutida com autoridades regionais e paulistas ontem, no Palácio dos Bandeirantes, na Capital.
Recentemente, o Porto foi o cenário de dois grandes incêndios, que envolveram carregamentos químicos ou explosivos. Há um ano e quatro meses, tanques do terminal retroportuário da Ultracargo, na Alemoa, em Santos, foram destruídos pelas chamas. O sinistro levou nove dias para ser controlado e foi considerado a maior ocorrência deste tipo no País.
Em janeiro, o terminal retroportuário da Localfrio, em Guarujá, foi atingido pelo fogo. Segundo bombeiros que atuaram no combate às chamas, nas primeiras horas do incêndio, houve dificuldade em identificar quais cargas estavam sendo consumidas e, assim, quais os meios adequados para conter as chamas. “A gente identificou falta de informação. Então, a gente está desenvolvendo um trabalho para termos um banco de dados dentro da Autoridade Portuária para que, no momento de um sinistro, a gente possa ter informações para o Corpo de Bombeiros, em tempo real, sem a necessidade de buscar diretamente no terminal”, explicou o chefe do posto da Agência Nacional dos Transportes Aquaviários (Antaq) em Santos, Daniel Alves dos Santos.
A criação do banco de dados é coordenada pelo órgão. Segundo o executivo, a ideia é que a Autoridade Portuária tenha em mãos a identificação do produto químico, o potencial de risco, o terminal onde se encontra e a localização da carga na instalação.
Para isso, 11 terminais do porto organizado (públicos) e a Embraport, que é um Terminal de Uso Privativo (TUP), deverão encaminhar eletronicamente, em 60 dias, as informações sobre suas cargas potencialmente perigosas. “Se um terminal tiver um caso idêntico ao da Localfrio, onde houve a evacuação do terminal, o Corpo de Bombeiros poderá utilizar essas informações junto à Autoridade Portuária”, destacou Daniel.
O chefe do posto da Antaq no Porto explicou que, inicialmente, a Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra) participaria do processo de monitoramento das cargas perigosas. Mas as tratativas com a entidade não avançaram no tempo estabelecido. “A Abtra congrega todas essas informações para a Receita Federal. Seria um facilitador. Ao invés de pegar de 11 terminais, eu pegaria de um único ponto. Mas por algumas dificuldades técnicas, depois de quatro meses de conversação, ela não apresentou esse trabalho”, explicou.
Enquanto o projeto foi elaborado, houve o treinamento de 51 pessoas, incluindo oficiais do Corpo de Bombeiros, que farão a gestão dessas informações. Além disso, foi desenvolvida uma tabela com as informações necessárias para o atendimento de uma emergência envolvendo cargas perigosas no Porto.
Em uma segunda etapa, a Antaq pretende expandir o banco de dados. “A nossa ideia futura é que o próprio banco de dados emita uma projeção 3D onde eu tenha o contêiner sinistrado e o que eu tenho em volta na pilha, para que a gente possa fazer o plano de remoção dessa carga de modo a entender o que tem mais risco. Talvez o contêiner sinistrado não seja o maior risco, mas sim os que estão perto”, destacou o chefe do posto local da Antaq.
Abtra
Procurada, a Abtra informou, através de sua assessoria de imprensa, que a análise das informações sobre esses produtos e de suas especificidades técnicas levou mais tempo do que o previsto. No entanto, a entidade pretende comunicar, ainda nesta semana, a conclusão do projeto à Autoridade Portuária. O prazo estimado para a implantação do projeto é de 30 dias.
“Estamos fazendo o possível para concretizar essa parceria e prosseguimos dispostos a contribuir para o melhor encaminhamento, tendo em vista o desenvolvimento sustentável da atividade portuária na cidade de Santos”, informou a Abtra.
Fonte: A Tribuna