O mercado de petróleo se inclina lentamente do excesso de oferta ao equilíbrio à medida que os cortes de produção de membros da OPEP e de 11 países fora do grupo começam a reduzir os fluxos da commodity.
Mas ainda falta muito. Na verdade, o grande “reequilíbrio” entre oferta e demanda ainda não se materializou, apesar de a Agência Internacional de Energia (AIE) acreditar que, pelo menos, “o mercado já está muito próximo do equilíbrio”, de acordo com seu relatório mais recente.
O que mais preocupa — e onde os especialistas em estatísticas da AIE diferem muito de seus pares da OPEP — é: o que vem pela frente? Reequilibrar é uma coisa, mas o corte de produção da OPEP também tinha como objetivo servir como guia em um período quando a demanda começasse a superar a oferta e quando os estoques fossem reduzidos.
É nesse ponto onde há muita discordância entre os dois grupos e até mesmo nos próprios dados da AIE.
De fato, o volume de petróleo estocado nos tanques — a opção de estoque mais cara — diminuiu. Também houve redução da quantidade estocada em instalações comerciais em locais como Caribe e Baía de Saldanha, na África do Sul. Os estoques de petróleo dos Estados Unidos caíram em cerca de 2,2 milhões de barris na semana encerrada em 7 de abril. Mas, antes de ficarmos muito animados, essa foi a primeira grande queda neste ano. Embora os estoques de produtos refinados nos EUA estejam caindo bastante, realmente são apenas os destilados médios (que incluem combustível de aviação, querosene e gás para aquecimento e óleo diesel) que estão resistindo às tendências sazonais típicas.
A AIE mostra que os estoques globais de petróleo caíram a uma taxa de 200.000 barris por dia durante o primeiro trimestre deste ano. Mas sua análise dos estoques observados — e há muitos lugares onde os volumes em estoque não podem ser facilmente calculados — sugere que “os estoques globais podem ter aumentado marginalmente” no período. Confuso? Você não é o único.
A OPEP, que publicou seu relatório mensal um dia antes da AIE, pinta um quadro bem menos otimista. O grupo revela que os estoques globais subiram 430.000 barris por dia no trimestre encerrado em março. Aqui não há confusão. O mundo ainda está com excesso de estoques de petróleo, de acordo com os maiores países produtores.
E o excedente é grande. A AIE afirma que 986 milhões de barris de petróleo foram adicionados aos estoques globais nos últimos três anos. A OPEP calcula o número em 1,2 bilhão de barris. Parte desse volume é necessária para abastecer novos oleodutos e fornecer estoques operacionais para novas refinarias, mas a maioria é meramente resultado do excesso de oferta.
As perspectivas para o trimestre atual não estão mais claras. A AIE vê mais avanços, com a demanda por petróleo da OPEP superando a produção em cerca de 1 milhão de barris por dia, o que implicaria uma redução semelhante dos estoques. Mas a OPEP vê um mundo com a oferta ainda à frente da demanda, o que adicionaria cerca de 280.000 barris por dia aos estoques.
Mas os dois grupos concordam em um ponto. As coisas vão mudar no segundo semestre deste ano. Se o corte de seis meses for prolongado, como parece provável, os estoques poderiam diminuir a uma taxa de 1,2 milhão de barris por dia no terceiro trimestre. Mas estender os cortes será doloroso para os produtores. Muitos, dentro e fora da OPEP, anteciparam planos de manutenção (que envolvem suspensão da produção) para ajudar a atingir suas metas. Eles não serão capazes de repetir esse truque no fim do ano.
Fonte: Bloomberg News