As trocas do Brasil com o exterior caminham para o melhor resultado em dez anos, favorecidas especialmente por um forte aumento das exportações.
Ninguém chega a prever superavit, mas o deficit em conta-corrente neste ano deve ser pequeno, de US$ 20 bilhões, algo ao redor de 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Há um grupo de economistas que espera que essa conta fique na metade disso.
Ainda que o número fique mais perto do teto, será o melhor resultado desde 2007.
Outro aspecto positivo é que o deficit menor será financiado com folga por recursos trazidos por estrangeiros, o chamado investimento direto.
No Brasil, deficit em conta-corrente muito altos, geralmente acima de 4% do PIB, indicam alta dependência de recursos externos e costumam despertar dúvidas sobre a disposição do estrangeiro de financiá-los, diz Mauricio Oreng, do Rabobank Brasil.
Isso ocorreu sobretudo em 1999, ano da desvalorização cambial, quando o rombo chegou a 4,5% do PIB, sem investimentos suficientes para cobri-lo e com as reservas internacionais em queda.
A conta-corrente, que inclui a balança comercial e a conta de serviços e rendas, é apenas uma parte de uma conta maior, que inclui tudo o que entra e sai do país para o exterior. Somada aos investimentos diretos e financeiros, ela determina o balanço de pagamentos –todas as trocas econômicas e financeiras com o exterior.
O deficit em conta-corrente vem diminuindo desde 2014, quando alcançou o pico de US$ 104 bilhões.
Até o ano passado, no entanto, a recessão era a principal fonte do ajuste, ao deprimir itens como exportações e viagens internacionais.
Paulo Val, da Brasil Plural Asset Management, lembra que as importações caíram mais de US$ 100 bilhões entre 2013 e 2016.
Neste ano, dizem economistas, a dinâmica é mais saudável. A importação se estabilizou e a exportação deve atingir o maior nível da história.
O Credit Suisse elevou as projeções para o saldo comercial em 2017, de US$ 52 bilhões para US$ 65 bilhões. Ele prevê deficit em transações correntes de 0,7% do PIB (US$ 13 bilhões) em 2017.
Para Andréa Damico, economista do Bradesco, a retomada da economia global foi essencial para a melhora da exportação. Ela prevê um deficit em conta-corrente de US$ 7,2 bilhões (0,35% do PIB).
Luis Afonso Lima, da Mapfre Investimentos, espera um deficit de US$ 9,1 bilhões, ou 0,4% do PIB, mas vê a sua composição com ressalvas.
“As importações ainda estão muito contidas pela queda da demanda doméstica. Além disso, quase metade das exportações está concentrada em produtos básicos.”
Sem enfrentar abalos significativos desde 2010, o investimento estrangeiro na economia deve manter a trajetória positiva e encerrar o ano entre US$ 70 bilhões e US$ 85 bilhões.
Esse tipo de recurso, mais do que suficiente para cobrir o deficit em conta-corrente, é visto como de melhor qualidade por ser menos volátil.
Fonte: Folha de S. Paulo