O dólar volta a operar acima dos R$ 3,90 na sessão desta quarta-feira (4), reforçando o sinal de cautela que toma boa parte dos emergentes em meio ao feriado nos Estados Unidos com a comemoração do Dia da Independência. Operadores apontam que, sem a referência dos mercados americanos, a estratégia mais comum é buscar proteção na divisa americana, mas sem grande mudança de posições.
A disposição em se assumir riscos também é reduzida por causa da baixa liquidez desta semana. O volume de negócios hoje está em cerca de R$ 75 milhões por minuto e tem se mantido abaixo de R$ 100 milhões nos últimos dias. Além da ausência de negócios nos EUA hoje, o mercado brasileiro também é afetado pelos jogos da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo (o último foi na segunda, dia 2, e o próximo será sexta, 6) e pelo feriado na capital paulista na próxima segunda-feira (9).
“Esse início de mês fica comprometido [pela redução de liquidez] e o investidor prefere manter a proteção do dólar, esperando o mercado ter mais catalisadores”, diz o profissional de uma corretora paulista.
Amanhã (5), a agenda americana volta a ficar mais carregada com a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve. No dia seguinte, são os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos que devem movimentar os ativos globais.
Pouco antes das 14h, o dólar comercial tinha alta de 0,34%, aos R$ 3,9087, tendo tocado a máxima de R$ 3,9197. O contrato futuro para agosto, por sua vez, avançava 0,20%, a R$ 3,9165.
Na semana passada, o Banco Central retomou as operações de venda de dólar com compromisso de recompra, nos chamados leilões de linha. No total, foram negociados US$ 2,925 bilhões. Especialistas ouvidos pelo Valor apontaram que o país não sofre de falta de liquidez, mas o fluxo acaba sendo afetado por questões sazonais, aumentando a relevância da atuação da autoridade monetária.
A variação na entrada e saída de recursos foi confirmado pelos dados do Banco Central, divulgados hoje. A última semana do mês de junho registrou saída líquida de capitais do país, no montante de US$ 947 milhões. O resultado negativo ficou concentrado na conta financeira, que registrou déficit de US$ US$ 1,642 bilhão no período, mais do que compensando a entrada de US$ 695 milhão na via comercial.
A virada de trimestre e de semestre costuma ser marcada por remessas de capitais, já que empresas e instituições financeiras usam os recursos para fechar seus balanços. Ainda assim, o mês de junho teve fluxo positivo de US$ 3,710 bilhões, com entrada de US$ 890 milhões na conta financeira e de US$ 2,820 bilhões na via comercial. Com isso, o primeiro semestre contou com superávit de US$ 22,525 bilhões.
Juros
Os contratos de juros futuros descolam novamente do dólar e registram queda na B3, em dia marcado pela baixa liquidez global em decorrência do feriado do Dia da Independência americano. O movimento é mais forte nos prazos mais longos, que chegam a ter baixa de até 20 pontos-base. Os mais curtos operam mais próximos da estabilidade e chegaram até a apresentar alta no início do dia.
O leilão de recompra de títulos continua a dar alívio para os DIs, de acordo com um operador. Hoje, o Tesouro adquiriu 700 mil NTN-Fs, ou 35% do lote de até 2 milhões de unidades definido para o dia. Ao mesmo tempo, não foram aceitas propostas para a venda de títulos. Segundo o profissional, ajuda também no movimento de baixa das taxas a realocação de recursos por fundos passivos após o vencimento de LTN e pagamento de cupom de NTN-F.
No exterior, com a liquidez reduzida, as condições para ativos arriscados parece mista, segundo o Rabobank. De acordo com relatório, autoridades chinesas seguem atuando para apoiar o renminbi no curto prazo, com sinais de que bancos estatais chineses entraram no mercado vendendo dólar.
Por volta das 14h, o DI janeiro/2020 é negociado a 8,32% (8,34% no ajuste anterior); o DI janeiro/2021 tem taxa de 9,27% (9,32% no ajuste anterior); o DI janeiro/2025 tem taxa de 11,25% (11,4% no ajuste anterior).
Bolsa
Após um curto período no campo negativo, o Ibovespa voltou a operar em leve alta, tentando romper a barreira dos 74 mil pontos. Em um dia marcado pela baixíssima liquidez — devido ao feriado americano –, os papéis da Eletrobras aparecem com destaque, disparando mais de 17%.
As ações da estatal reagem às novidades na tramitação do projeto de lei que permite a venda de distribuidoras da companhia. Na noite de ontem (3), a Câmara dos Deputados aprovou requerimento de urgência para permitir que o texto possa ser votado diretamente no plenário ainda hoje, sem passar pelas comissões — essa etapa praticamente inviabilizaria a realização dos leilões neste ano.
Por volta de 14h, Eletrobras ON (+17,46%) e Eletrobras PNB (+14,33%) lideravam os ganhos do Ibovespa — o índice avançava 0,18%, aos 73.798 pontos. Com o desempenho de hoje, as ações da empresa acumulam ganhos de mais de 30% só nesta semana.
“O mercado tinha dado uma boa desanimada [em relação à venda das distribuidoras] e, por isso, temos essa alta expressiva hoje”, diz Vitor Suzaki, analista da Lerosa Investimentos
Entre as blue chips, destaque para Itaú Unibanco PN (+0,36%) e Eletrobras ON (+16,87%). Já Petrobras PN (-0,63%), Bradesco PN (-0,14%) e Vale ON (-0,42%) operam em queda.
(Lucas Hirata, Daniela Meibak e Juliana Machado | Valor)
Fonte: Valor.com