As importações foram destaque no fechamento da balança comercial do primeiro trimestre, confirmando a tendência de que as compras do Brasil devem aumentar mais do que as exportações ao longo de 2018, em termos percentuais, avaliam especialistas.
No primeiro trimestre de 2018, as vendas externas do País subiram 11,3%, para US$ 54,370 bilhões, contra igual período de 2017, enquanto as importações tiveram expansão de 15,8%, a US$ 40,417 bilhões, mostram dados divulgados ontem pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Com isso, o saldo comercial do Brasil ficou superavitário de US$ 13,952 bilhões, valor 3,1% inferior ao alcançado em igual período de 2017 (US$ 14,402 bilhões).
Somente em março, o Brasil vendeu US$ 20,089 bilhões, um crescimento de 9,6% contra igual mês de 2017, enquanto as compras avançaram 16,9%, a US$ 13,809 bilhões, o que acabou gerando um saldo comercial positivo de US$ 6,281 bilhões, resultado 12% menor do que em março de 2017.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, comenta que o desempenho do trimestre e de março está em linha com o que já vinha sendo esperado: importações crescendo mais do que as exportações, gerando redução da balança.
“Esse movimento espelha a reativação da atividade econômica. Com a retomada, as empresas passam a importar mais máquinas e equipamentos, enquanto as pessoas compram mais bens de consumo”, explica Castro. Todos os grupos de importação cresceram até o mês de março: combustíveis e lubrificantes (+44,9%), bens de consumo (+18,8%), bens de capital (+18,2%) e intermediários (+9,8%).
Segundo Castro, as exportações devem crescer cerca de 7% neste ano, contra expansão de 17,5% em 2017. Já para o saldo comercial, a previsão dele é que o País tenha um superávit de US$ 50 bilhões (ante US$ 67 bilhões em 2017), caso não haja um acirramento da guerra comercial entre China e os Estados Unidos.
Estabilidade
Juliana Inhasz, professora de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), também considera o resultado do saldo comercial em linha com o esperado e observa que a estabilidade da taxa de câmbio e dos preços das commodities tem dado previsibilidade à trajetória da balança brasileira. “Quando os preços sobem muito, a gente perde em volume e em valor, porque a demanda reduz. Já quando os preços caem muito, perdemos em valor”, ressalta Inhasz. A professora reforça que, com a massa salarial da população “um pouco maior”, a tendência é que as importações continuem em expansão.
Já o professor de economia do Ibmec-SP Walter Franco destaca que o aumento da corrente de comércio no trimestre indica que o setor externo do Brasil está mais dinâmico. Até março, as trocas comerciais do País com as demais nações somaram US$ 94,787 bilhões, aumento de 13,2% sobre o mesmo período de 2017, quando totalizaram US$ 86,500 bilhões. Somente em março, a corrente chegou a US$ 33,898 bilhões, crescimento de 12,5%, em relação a março de 2017.
Risco
Castro, presidente AEB, comenta que um possível acirramento da guerra comercial entre China e EUA poderia reduzir os preços das commodities, tanto agrícolas, quanto minerais, produtos que representam quase 60% das nossas exportações. Ontem, a China chegou a anunciar um aumento de tarifas em até 25% sobre 128 produtos dos norte-americanos, como carne suína congelada e vinho, frutas e nozes.
Segundo Castro, essa medida não afeta o Brasil, mas um aprofundamento desse conflito, sim. Ele exemplifica que os nossos parceiros comerciais da América do Sul, por exemplo, por serem também exportadores de commodities, teriam a sua atividade econômica reduzida com a guerra comercial, situação que, para o Brasil, representaria uma diminuição do mercado para os nossos produtos manufaturados.
Fonte: DCI – Diário Comércio Indústria & Serviços