Um encontro realizado na Amcham, em São Paulo, ontem, (06), discutiu o impacto da saída do Reino Unido da UE e os possíveis desdobramentos nas empresas, economia e acordos comerciais. Afinal: O que o “Brexit” significa para o mundo? E para o Brasil?
Na opinião de Wasim Mir, encarregado de negócios da Embaixada Britânica de Brasília (DF), a saída do Reino Unido da União Europeia pode representar um estreitamento de laços com o Brasil. “A relação entre o Reino Unido e o Brasil é muito antiga e é claro que tivemos altos e baixos ao longo da história, mas hoje temos uma colaboração mútua no âmbito da educação, principalmente na ciência. Essa parceria vai continuar”, afirmou.
Para ele o mercado financeiro passa hoje por um período de especulação e instabilidade que pode gerar oportunidade de negócios. “Esperamos que o Brexit abra a possibilidade de desenvolver novos parceiros comerciais”, completou.
Na mesma linha o presidente do Conselho Empresarial da América Latina Capítulo Brasil (CEAL) e da Kaduna Consultoria e Participações, Giannetti da Fonseca acredita que o Brasil terá mais oportunidades para acordos de livre comércio com o Reino Unido, já que ele não é mais membro da União Europeia. “Como eles certamente têm uma posição mais liberal que o bloco, o Brasil não precisaria ter cotas de carne e açúcar, poderia exportar o quanto quiser”, afirmou.
Fonseca acrescentou ainda que o Reino Unido vai deixar o Brasil exportar o quanto quiser (de carne e açúcar), pois não há concorrência desses produtos lá. “Eles são a quinta economia do mundo, têm população e volume de consumo importante. Hoje o comércio do Brasil com os ingleses é de 1,5% do total das exportações. É pouco significativo, mas a oportunidade de crescer é alta, podendo passar para 3% a 5% e vice-versa”.
Para o Brasil, os pontos fortes do comércio bilateral com o Reino Unido estão em segurança alimentar e meio ambiente. “Em relação a esses dois pontos, somos dominantes no mundo. Podemos receber capital britânico em projetos de engenharia genética, biotecnologia e alimentos”, exemplifica o consultor.
Por outro lado, o professor de Direito e Relações Internacionais da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), Marcus Vinicius de Freitas, acredita que o Brexit é um equívoco. “O que se mostrou é uma Europa à la carte, um nacionalismo em alta e medo da globalização”, disse, ressaltando que o bloco peca pela transparência “e o futuro do bloco será definido pelas razões definidas por Alemanha e França”.
A busca de acordos bilaterais, por exemplo, já é, para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), José Augusto Fontoura Costa, uma demonstração de que a saída terá alternativas positivas para o país se estabelecer comercialmente fora da União Europeia. “Esse novo engajamento em acordos bilaterais e multilaterais é sinal de que o Reino Unido já está buscando alternativas. É bom para nós, não sei para a Inglaterra ainda, mas eles têm que resolver. A fila anda e vai andar para eles, com certeza”, disse.
Quando o assunto são os efeitos dominó na economia, a avaliação do professor de Economia do Insper e sócio da Nogami Participações, Otto Nogami, é que a brusca oscilação das moedas internacionais, principalmente da libra, e a fuga do capital estrangeiro do Reino Unido por conta do Brexit são temporários. “O Brexit dói, machuca, mas ao longo do tempo as relações são estabilizadas”, comentou.
Para o especialista, a decisão dos britânicos de votarem a favor da saída da UE é consequência da preocupação com a imigração, além da expectativa de garantir e melhorar o acesso a bens e serviços e destacar suas qualidades, como seu centro financeiro, considerado por Nogami como “o centro financeiro mais importante do mundo”.
Sobre isso, Fontoura Costa comenta ainda que “não haverá efeito dominó de saída de outros países-membros do bloco”, entretanto acha que pode haver uma desagregação do Reino Unido. “Nacionalismos britânicos acontecem com grande força. Se a Escócia fizesse um plebiscito hoje, com certeza eles sairiam, o que me parece ruim em termos históricos e mais complicado que o Brexit”, finalizou.
Fonte: Guia Marítimo