Na contramão do crescimento, os gargalos que atrapalham o País, também inibem a cabotagem. Com uma costa de 7,3 mil quilômetros e 80% da população a 200km do litoral a atividade industrial brasileira acaba por se concentrar ao longo da costa, mas para aí. A cabotagem apresenta muitas vantagens em relação aos demais modos de transporte, maior vida útil da infraestrutura, equipamentos e veículos, maior segurança da carga – segundo levantamento feito pela Associação das Transportadoras, os roubos de carga aumentaram 16% em 2014 no Brasil, causando prejuízo estimado de R$ 1 bilhão por ano –, menor custo de infraestrutura e operacional, além do menor impacto ambiental.
Mesmo assim, o pleno desenvolvimento do setor ainda depende da eliminação de diversos gargalos operacionais, institucionais e de regulamentação de infraestrutura. Entidades do setor privado alegam que os custos de frete de cabotagem no Brasil, por exemplo, para distâncias semelhantes ficam entre sete a dez vezes mais caro do que por longo curso. Além disso, são emitidos mais de cinquenta documentos em cada porto por onde passa um navio de cabotagem, as embarcações de longo curso precisam de menos de dez. O governo já criou uma comissão nacional para resolver a questão, mas os problemas persistem.
A cultura rodoviarista, por exemplo, é mais um dos muitos problemas que cercam e atingem o modal. Como explica Waldir Frota Sampaio, diretor de Infraestrutura e Desenvolvimento da Cearáportos (Companhia de Integração Portuária do Ceará), o modal mesmo que já é aliado a outros – pois na chegada ou saída do terminal portuário tem a ajuda de outro modal que não o transporte aquaviário – ainda sofre com um problema: planejamento. “O que precisamos planejar é qual o modal que melhor complementa a cabotagem em cada região brasileira com vistas ao consumidor final. É importante observar que o uso do modal ferroviário para o Nordeste e a Navegação de Interior para o Norte, Sul e Sudeste geram economias bastante significativas para o envio ou recepção de cargas no Brasil”, explica.
Para o executivo, é preciso deixar de trabalhar com a cultura e passar a trabalhar política – empresarialmente para usar uma matriz de transporte de Estado que vise a redução de emissão de carbono promovendo ainda a redução de custo ao consumidor final. “É preciso equacionar o uso das rodovias de modo a ter mais investimentos e não despesas com acidentes envolvendo veículos de carga, a elevação do roubo de cargas e o excesso de carga por eixo de veículo de carga”. Além disso, ele destaca a necessidade da redução da diferença de preço entre o diesel rodoviário e o diesel marítimo e de analisar o uso do biodiesel na navegação de cabotagem brasileira.
Fonte: Guia Marítimo