Um levantamento da consultoria Solve Shipping aponta que, comparando apenas volumes das exportações brasileiras em 2016, os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) estão 30 milhões de toneladas acima dos dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). De acordo com informações da Antaq, o Porto de Niterói (RJ), por exemplo, não aparece como exportador, enquanto para Secex — que extrai seus dados diretamente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro/Receita Federal) — o Porto de Niterói (RJ) embarcou para o exterior 16 milhões de toneladas naquele ano.
Em São Sebastião (SP), foi percebida uma diferença de quase sete milhões de toneladas (confira nas tabelas abaixo) já que a movimentação, segundo a Secex, foi de 7,1 milhões e a Antaq contabiliza apenas 200 mil toneladas. Já em Santos (SP), faltam seis milhões de toneladas nos dados da Antaq referentes a exportações em 2016 quando comparados aos dados da Secex.
De acordo com os indicadores de 2017 divulgados na última quinta-feira (15) pela Antaq, o volume das exportações ficou 11,1 milhões de toneladas abaixo dos dados da Secex enquanto o volume de importação da agência superou em 12,5 milhões de toneladas o divulgado pela secretaria de comercio exterior do MDIC. A título de comparação, supondo que toda essa divergência nos dados fosse transportada por navios porta-contêiner, ela seria suficiente para encher 1,7 milhões de contêineres, volume equivalente a toda importação brasileira proveniente da Ásia.
Enquanto o governo tenta atrair interessados em novos ativos do setor portuário, os investidores cobram informações mais consistentes. Apesar de entenderem que os números não estão precisos, fundos de investimento não conseguem quantificar o tamanho desses erros. “Um governo que vai ao Fórum de Davos ‘vender’ credibilidade e atrair investimentos não deveria oferecer uma base de dados dessas aos investidores”, analisa o sócio da Solve, Leandro Carelli Barreto.
Ele vê dificuldade de os investidores fazerem projeções de receita de ativos com tamanha divergência nos dados oficiais de movimentação portuária no Brasil. “Os dados da Antaq, que deveriam balizar os usuários do setor dado o seu nível de abrangência e detalhamento, simplesmente não batem com os dados reportados pela Secex, pelas autoridades portuárias ou por dados processados por fontes privadas”, comenta.
Barreto cita o caso da venda do controle do TCP à China Merchants Port Holding, do qual não se tem estatísticas sobre operações de transbordo e, diante da conhecida diferença entre as tarifas portuárias para movimentação de contêiner cheio/vazio, longo curso, cabotagem e transbordo, o consultor questiona como foi possível estimar receitas, ebtida, retorno sobre investimento (ROI) e payback antes de pagar R$ 2,9 bilhões para adquirir 90% do controle desse terminal. “A China Merchants possivelmente recorreu a outras fontes de dados”, acredita.
Fonte: Portos e Navios