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A falta de contêineres, aumento dos fretes marítimos e o impacto em seus negócios

A falta de contêineres, aumento dos fretes marítimos e o impacto em seus negócios
18/09/2020 zweiarts

por Everaldo Barros, CEO da MAC Logistic

O mercado exportador tem observado com preocupação a dificuldade em conseguir reservas nos navios para suas exportações. Os atrasos têm sido constantes, a demora para confirmar uma reserva pode levar semanas ou até meses, e não raro, quando tudo parece programado, chega o aviso de que o seu embarque não ocorrerá conforme previsto.

Nas importações, embora existam particularidades que diferenciam o que ocorre nas exportações, o contexto macro também é de pressão por espaço e aumento dos fretes internacionais.

Se de alguma forma isso trouxer um alívio, fique sabendo que você não está sofrendo sozinho! E mais, não se trata de um problema isolado, mas de um efeito mercadológico devido à pandemia e concentração do setor marítimo internacional em poucos players.

Mas afinal de contas, por que vivenciamos essa situação?

Primeiro, devido a pandemia!

Em janeiro de 2020, quando o Governo chinês prorrogou o feriado do Ano Novo, a mensagem era uma forte indicação de que o problema com o COVID-19 seria maior que o esperado.

O fechamento das fábricas chinesas gerou automaticamente o cancelamento de dezenas de viagens de navios, não somente para o Brasil, mas para todos os países do mundo. As embarcações com destino aos Estados Unidos e Europa, cuja capacidade superam 20.000 teus (unidade de container de 20’), iniciou o ciclo que vivenciamos nos dias de hoje.

Devido ao cancelamento dessas viagens, milhares de contêineres deixaram de ser reposicionados ao redor do mundo e, com o prolongamento da pandemia, o efeito se acentuou de forma exponencial. Aqui temos a primeira razão: a não movimentação e reposição dos contêineres devido aos efeitos do COVID-19.

Destacamos outro fator sobre a oferta e a demanda (também decorrente da pandemia) com efeitos imediatos.  Após a decisão da maioria dos países em fecharem suas fronteiras e ampliarem barreiras de controles sanitários, muitas indústrias reduziram a capacidade produtiva, com baixo nível de estoques e o mínimo da atividade econômica em andamento. O efeito dessas reduções ampliou e impactou diretamente o desequilíbrio do fluxo de contêineres, já que os poucos navios que mantiveram suas saídas, ora tinham carga de saída, ora de retorno, mas no geral em completo desequilíbrio.

Não bastasse os pontos acima, nos últimos 5 anos ocorreu uma concentração importante no setor marítimo global, criando mega corporações de transporte de contêineres, e gerando pouca competitividade entre elas. Destacamos, ainda, que com os recursos tecnológicos e alianças estratégias entre as companhias marítimas, elas são capazes de ajustar suas posições de saídas de navios mediante oferta e procura em curtíssimo espaço de tempo, mantendo os fretes em patamares elevados.

E devemos nos acostumar a isso!

As informações acima talvez não sejam surpresas, mas o importante aqui é observar que estamos em uma rota irreversível, no qual a pandemia acelerou um processo que já estava em andamento.

Em vários países, companhias marítimas estão ofertando reservas somente para novembro, e há aumentos sucessivos de GRI (General Rate Increase) previstos para as próximas quinzenas.

Segundo o Freightos Baltic Global Average Freight Rate Index, empresa especializada em análise do mercado de fretes marítimos internacionais, haverá uma pressão por demanda e aumentos de fretes até o final deste ano, e com potencial de se estender para todo o primeiro semestre de 2021.

Diante deste cenário o quê fazer? Como agir? Quais ações os exportadores e importadores devem tomar?

Todas as perguntas acima têm mais que uma resposta, e podem variar dependendo do setor de atuação ou tamanho da organização, porém, há uma palavra em comum que deve ser adotada por todas as empresas: PLANEJAMENTO!

Para não falar de planejamento de forma genérica e sem contribuição, permitam-me fazer algumas sugestões que podem auxiliar e direcionar as ações das suas áreas de Comércio Exterior, Suprimentos e Supply Chain:

  • Estabeleça comitês ou grupos de trabalho entre as áreas de marketing, planejamento, suprimentos, produção, vendas de comércio exterior (logística), para que todos tenham uma visão macro dos desafios;
  • Estabeleça comitês ou grupos de trabalho, com profissionais da empresa e de seus fornecedores ligados a cadeia logística internacional em que possam compartilhar informações com velocidade;
  • Divulgue e compartilhe a situação de mercado com todos os stakeholders envolvidos na sua operação de comércio exterior, envolvendo-os de forma que tenham uma visão compartilhada da situação de mercado;
  • Compartilhe tal situação com os seus exportadores e importadores ao redor do mundo (eles também estão sofrendo) e, feito isso, proponha mudanças nos contratos ou negociações de compra e venda que permitam reajustes dos preços e ajustes nos prazos de entregas, conforme mudanças do mercado;
  • Garanta que suas operações sejam realizadas por empresas especializadas em comércio internacional e de logística, capazes de não somente operar, mas que proponham soluções, orientando e apoiando medidas e ações que reduzam riscos;
  • Estabeleça planejamento de compras e vendas internacionais de curto e médio prazo, e solicite suas reservas com muita antecedência.;
  • Alterne portos de origens e destinos. Solicite para seus operadores soluções fora da simples pressão por “conseguir uma reserva”, e esteja aberto a operar através de outros portos;
  • Se apaixone pelo problema, e não pela solução! Apaixonados por soluções tendem a fazer tudo da mesma forma sempre, sem ouvir o entorno não expandindo possibilidades.

As sugestões acima são meros indicativos, sem a pretensão de resolver os desafios que estão por vir, mas elas podem contribuir para uma travessia menos turbulenta em um mar que indica ser de grandes ondas.

Na semana do cliente, eu propus esse artigo com algumas sugestões, por considerar que você, cliente, merece mais do que logística!